Texto de Renata Malheiros Henriques, Coordenadora Nacional dos projetos de empreendedorismo feminino do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, publicado originalmente em seu LinkedIn.
Escuto essa pergunta com frequência desde que me tornei coordenadora nacional dos projetos de empreendedorismo feminino do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE. Trata-se de uma excelente indagação. Ela nos leva a questionar se, de fato, homens e mulheres no Brasil experienciam os mesmos desafios na hora de abrir e gerir sua empresa.
Ao recorrer aos dados e à experiência de mais de dez anos em fomento ao empreendedorismo, afirmo com tranquilidade: empreender é desafiador para homens e mulheres. No entanto, para elas, é mais. As razões são majoritariamente culturais. A boa notícia é que, como todo traço cultural, pode-se estimular a mudança a partir de políticas de sensibilização e intervenções inteligentes.
As duas principais raízes dos desafios à mulher empreendedora são:
Eis os dados, segundo pesquisas do SEBRAE 2018:
§ as mulheres correspondem a 50% dos negócios abertos em 2018 no Brasil. Estatística equilibrada, considerando que elas respondem por metade da população do país.
§ As mulheres no Brasil são 16% mais escolarizadas em anos de estudo. No entanto, negócios liderados por mulheres faturam 22% menos que os liderados por homens.
Um dos motivos é porque mulheres se dedicam, em média, 18% menos horas aos seus negócios do que homens. Elas gastam mais tempo com tarefas domésticas e cuidado com pessoas. Segundo o IBGE, mulheres investem, em média, o dobro de horas semanais (21 horas) com afazeres domésticos e cuidado de pessoas. Os homens gastam 10 horas com as mesmas tarefas.
Outro motivo são os setores dos negócios liderados por mulheres. Segundo o SEBRAE, os segmentos de beleza, alimentos & bebidas e vestuário concentram a maioria dessas empresas. Porque não vemos mulheres em setores tradicionalmente de alto valor agregado e inovação como engenharias, robótica, serviços tecnológicos e finanças?
A resposta, entre outros fatores, remete à nossa cultura, já que ela contribui para:
Quando crianças, sonhamos em ser aquilo que vemos gente como nós sendo. Se meninas não enxergam mulheres líderes, à frente de empresas, engenheiras ou cientistas, como acreditar que podem exercer esses papéis quando crescerem? Políticas que lancem luz sobre a representatividade de mulheres são positivas não só na normalização junto aos adultos como na inspiração aos mais jovens.
Outro fator fundamental na conta da cultura são os estímulos desiguais ao desenvolvimento de certas habilidades socioemocionais entre os meninos e meninas. Também chamadas de soft skills, essas práticas não cognitivas demonstram-se tão ou mais importantes ao sucesso de um negócio quanto as competências técnicas (hard skills). Enquanto as primeiras remetem-se a competências como autoconfiança, liderança, capacidade de defender uma ideia em público e de criar rede de relacionamento, as segundas relacionam-se com habilidades como planejamento, finanças, marketing e gestão.
Muitas vezes tido como um cenário contra intuitivo, mulheres tendem a demonstrar dificuldades em soft skills como criar rede de relacionamento e se comunicar em público, por exemplo. Os motivos são majoritariamente – de novo – culturais: redes são geralmente criadas em eventos sociais como happy hour após o trabalho; situações em que muitas mulheres, sobretudo com filhos pequenos, são desestimuladas pela cultura: “que tipo de mãe sou eu que deixo meu filho pequeno para ir a happy hour?” ou “meu marido é ciumento” são falas comuns entre as empreendedoras.
Políticas que auxiliem na tomada de consciência de crenças limitantes nos adultos e criação menos estereotipada de crianças são imperativas.
O primeiro passo é a tomada de consciência – daí a importância de eventos e rodas de conversa para a sensibilização. Com ela, vem a mudança de comportamento e logo resultados de curto prazo. Quando homens e mulheres superam crenças limitantes e estereótipos culturais tem mais chances de prosperar não só nas empresas, mas em suas vidas em sociedade.
Souza | Dez 20,2020
Parabéns pelo artigo, agrega grandes conhecimentos.
Sebrae ES | Jan 7,2021
Estamos felizes que esteja gostando, Souza! 🙂